Retrospectiva esportes: protestos contra o racismo marcam 2020

1 de janeiro de 2021 Off Por Agência de Notícias

As imagens do homicídio do norte-americano negro George Floyd por um policial branco em Minnesota (Estados Unidos) no dia 25 de maio rodaram o mundo. O vídeo mostrava Floyd, de 46 anos, já imobilizado no chão e, sobre ele, o policial Derek Chauvin pressionando seu pescoço com o joelho. Durante a ação, que se estendeu por oito minutos e 46 segundos, Floyd disse várias vezes I cant breath (Eu não consigo respirar),antes de morrer por asfixia. O fato provocou uma onda de protestos contra o racismo e a violência policial – movimento intitulado Vidas Negras Importam – que tomou as ruas de diversas capitais do país e ultrapassou fronteiras. Estrelas de diversas modalidades esportivas se engajaram publicamente na luta contra a discriminação racial, assim como clubes e instituições ao redor do planeta.

Em um primeiro momento, devido à paralisação das competições por conta da pandemia de covid-19, vários atletas recorreram às redes sociais para extravasar a indignação contra a injustiça racial. Entre eles o ex-jogador Michael Jordan, hexacampeão da NBA – principal liga de basquete profissional nos Estados Unidos – as tenistas Serena Williams e Coco Gauff, além de Lewis Hamilton, piloto britânico que este ano conquistou o hexacampeonato na Fórmula 1. Na Europa, onde a bola voltou a rolar mais cedo depois das paralisações, os protestos ocorreram em campo, antes do apito inicial.

No Brasil, jogadores de futebol da nova geração como Talles Magno (Vasco) e Igor Julião (Fluminense) foram às redes defender atitudes antirracistas. “Eles percebem que não adianta ser rico e famoso, porque o racismo vai continuar a persegui-los, seja nos campos brasileiros ou europeus”, analisou na ocasião Marcelo Carvalho, fundador do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, em entrevista à Agência Brasil.

Os clubes também engrossaram os protestos, mas em um país com tantos craques negros – Pelé, Garrincha, Leônidas da Silva, Djalma Santos e Didi – apenas a Ponte Preta, entre as agremiação das Séries A e B do Campeonato Brasileiro, é presidida por um dirigente negro: Sebastião Arcanjo, também conhecido como Tiãozinho. O futebol representa, do ponto de vista das direções, ou dos espaços de tomadas de decisão nos clubes, essa distorção que perpassa todos os níveis da sociedade. O negro, no futebol, não conseguiu sair das quatro linhas, resume o mandatário do time de Campinas (SP).

NBA e WTA de Cincinnati
Em uma atitude inédita na história da NBA, a equipe do Milwaukee Bucks não entrou em quadra no dia 26 de agosto, uma quarta-feira, em protesto contra o racismo e a violência policial. O time enfrentaria o Orlando Magic em uma partida de playoff (jogos finais). O episódio ocorreu três dias após o norte-americano negro Jacob Blake, de 29 anos, ser baleado por policiais com quatro tiros nas costas, em Wisconsin. Diante da atitude do Bucks, a NBA suspendeu as três partidas programadas para aquela noite.

Após o protesto na NBA, a japonesa Naomi Osaka desistiu de disputar a semifinal do WTA de Cincinnati (Estados Unidos).. Em uma mensagem publicada no Twitter na madrugada do dia 27 de agosto, a terceira melhor tenista do mundo justificou o boicote: “Antes de ser uma atleta, sou uma mulher negra”. Horas mais tarde, os organizadores do torneio desmarcaram as partidas agendadas para aquela quinta-feira em solidariedade à luta contra a desigualdade racial e injustiça social.

Campeonato Francês e Liga do Campeões
Neste ano, o atacante brasileiro Neymar, camisa 10 do Paris Saint-Germain (PSG), ao vivenciar duas duas situações de racismo em campo, também não ficou calado. A primeira delas ocorreu em setembro, durante uma partida do PSG contra o Olympique de Marseille, pelo Campeonato Francês O brasileiro acusou o zagueiro Álvaro González de injúria racista. No decorrer do jogo, Neymar chegou a falar com o quarto árbitro, pedindo “Racismo não”. O camisa 10 acabou acabou sendo expulso de campo, ao desferir um tapa na cabeça de González, defensor do Olympique. Após a partida, Neymar revelou nas redes socias disse ter sido chamado de “macaco filho da p… pelo zagueiro.

Mais recentemente, no início deste mês, o confronto entre PSG (França) e Istanbul Basaksehir (Turquia) pela Liga dos Campeões foi suspenso, 13 minutos após o início do duelo, devido a um episódio de racismo envolvendo a arbitragem. O embate foi interrompido após o time turco acusar o quarto árbitro, o romeno Sebatian Coltescu, de ter usado um termo racista para se referir ao camaronês Pierre Webo, auxiliar técnico do Basaksehir.

Neymar e o francês Mbappé argumentaram com o juiz Ovidiu Hategam, também romeno, que seria melhor Costescu deixar o campo para que o jogo prosseguisse, mas a discussão foi em vão. Os jogadores de ambos os times resolveram então deixar o gramado e não retornaram mais. A partida acabou suspensa pela Uefa. E mais uma vez, depois do ocorrido, Neymar se manifestou no Instagram :postou uma imagem em preto e branco e escreveu: Black Lives Matter (Vidas Negras Importam).

Horas após o confronto, imagens de TV mostraram o quarto árbitro Coltescu dizendo em romeno: O negro ali. Vá e verifique quem ele é. O negro ali, não dá para agir assim, depois que Webo protestou veementemente contra a decisão da arbitragem.

Campeonato Brasileiro
No último dia 20, no Maracanã, o Flamengo derrotou o Bahia, por 4 a 3, após duas viradas de placar, em jogo válido pela 26ª rodada da Série A do Brasileirão. Mas a alegria da vitória rubro-negra, pra lá de emocionante, acabou ofuscada após o meia Gerson revelar ter sido vítima de racismo. Ao ser entrevistado ao final da partida, o meia acusou o jogador colombiano Índio Ramírez de injúria racista e criticou o comportamento do técnico Mano Menezes.

O Bruno Henrique fingiu que ia chutar e ele [Ramírez] reclamou com o Bruno. Fui falar com ele e ele falou bem assim pra mim: ‘cala a boca, negro’. Eu nunca falei nada disso, porque eu nunca sofri, mas isso eu não aceito. Nunca falei de treinador, mas o Mano precisa saber respeitar. Estou vindo falar aqui em meio de todos os negros que existem no Brasil, desabafou Gerson, visivelmente irritado.

Menos de duas horas após a partida, Mano foi demitido do Esquadrão de Aço. A Polícia Civil do Rio de Janeiro abriu inquérito para investigar o caso. Pelo Instagram, ainda na noite do jogo, Gerson voltou a se manifestar de forma contundente: “Racismo é crime. E deve ser tratado desta maneira em todos os ambientes, inclusive no futebol”. – Agência Brasil – YWD 51469