Lesões obstrutivas nas artérias carótidas são responsáveis por grande parte dos AVCs

Lesões obstrutivas nas artérias carótidas são responsáveis por grande parte dos AVCs

26 de outubro de 2022 Off Por Redação

Fatores de riscos como envelhecimento, hipertensão, diabetes, tabagismo, colesterol alto contribuem para a formação de placas de ateroma que promovem a obstrução dos vasos

As carótidas são os vasos localizados na região cervical, responsáveis pela maior parte do suprimento sanguíneo para o cérebro, juntamente com as artérias vertebrais, que na região intracraniana se comunicam por uma rica rede de circulação colateral. Por conta de suas características anatômicas e de fluxo, associadas aos fatores de riscos como envelhecimento, hipertensão, diabetes, tabagismo e dislipidemia, a bifurcação carotídea situada no pescoço, frequentemente é sede de formação de placas de ateroma que podem promover o entupimento do vaso, ou ainda, com mais frequência, liberar fragmentos na corrente sanguínea que irão interromper agudamente o fluxo de sangue para determinada área do cérebro. Essa descontinuação provoca o que conhecemos como isquemia cerebral.

Lesões obstrutivas nas artérias carótidas são responsáveis por 15 a 20% de todas as isquemias cerebrais, também conhecidas como Acidente Vascular Cerebral (AVC) Isquêmico. A prevalência dessas lesões na população idosa varia e pode atingir até 25% em pacientes também portadores de doença coronariana ou de obstruções em artérias dos membros inferiores. O grande desafio é que somente uma pequena parte dos AVCs (15%) é precedida por um sinal de alerta ou sintomas neurológicos transitórios. A grande maioria dos pacientes apresenta já na primeira manifestação clínica sequelas neurológicas que permanecerão de forma definitiva.

A cirurgiã vascular e integrante da Comissão para Tratamento das Doenças Carotídeas da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular Regional São Paulo (SBACV-SP), Dra. Marcia Maria Morales, explica que o AVC ou Acidente Vascular Encefálico (AVE) é causa relevante de mortalidade e incapacidade física. A hipertensão arterial sistêmica (HAS) está associada a um elevado risco de doença carotídea e o seu tratamento relaciona-se com a redução significativa do risco de AVE e de progressão de placa carotídea. “Este é o mais importante fator de risco para AVE, isquêmico ou hemorrágico, passível de modificação. Setenta e sete por cento dos pacientes com algum tipo de AVE são portadores de HAS”, declara a médica.

A aterosclerose (acúmulo de placas de gordura, cálcio e outras substâncias nas artérias) é, sem dúvida, o agente causal mais relevante e presente em 90% das vezes. Outras causas menos frequentes podem estar relacionadas à obstrução carotídea extracraniana, como dissecção, displasia fibromuscular, vasculites e traumas arteriais. A especialista diz que, “a formação de uma placa de ateroma parece estar atrelada ao processo de envelhecimento dos seres humanos e de forma sistêmica, ou seja, indivíduos suscetíveis geralmente apresentam a doença em vários territórios, configurando populações de risco para isquemia coronariana, para AVE e para as obstruções arteriais periféricas, simultaneamente.”

No Brasil, os dados sobre a prevalência do AVE não são abundantes, mas a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), fundamentada em inquérito epidemiológico de base domiciliar, estimou, em amostra representativa nacional, a presença de 2.231.000 pessoas com AVE e 568.000 com incapacidade grave. A prevalência pontual foi de 1,6% em homens e de 1,4% em mulheres. A incapacidade grave foi de 29,5% em homens e de 21,5% em mulheres. Uma porcentagem significativa de todos os acidentes vasculares encefálicos, que varia de 10 a 15%, decorre de trombos originários de placas de ateroma que causam estenoses acima de 50% na bifurcação carotídea, conforme no  site da Scielo.

 “O diagnóstico da doença carotídea nos proporciona a oportunidade de inserir o paciente em programas de vigilância dos fatores de risco, de uso de medicamentos apropriados e de seleção para tratamento invasivo, quando indicado. Com isso, reduzimos não somente a ocorrência de isquemia cerebral e suas sequelas, mas também a mortalidade cardiovascular como um todo, trazendo grande benefício para essa população”, revela a cirurgiã vascular.

Como evitar o desenvolvimento de problemas nas artérias carótidas?

Segundo a Dra. Marcia, a realização de qualquer atividade física reduz a chance em 20% de se ter uma estenose carotídea. Também é importante controlar a obesidade, a HAS, o diabetes, evitar o tabagismo, e ter uma dieta balanceada, evitando o aumento no colesterol.  

O presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular – Regional São Paulo, Dr. Fabio H. Rossi, menciona que é necessário educar a população sobre a alta prevalência e a gravidade, bem como a maneira de controlar os fatores de risco. Além disso, é fundamental informar quais são os principais sintomas do AVC. “Nos casos mais graves, que cursam com deficit motor, como paralisia facial ou de membros, é muito fácil identificá-lo, nos casos em que não existem sintomas exuberantes, uma dica é usar a técnica mnemônica do SAMU, pedindo para que a pessoa sob suspeita sorria, abrace, cante uma música ou fale o endereço onde mora. Se houver alguma alteração, é preciso encaminhar o paciente imediatamente a um serviço de emergência, para que se for confirmado o diagnóstico, haja rápida desobstrução do vaso comprometido. Na ocorrência do AVC, o tempo entre o diagnóstico e a imediata ação da instituição de tratamento, que envolve a desobstrução da artéria por cirurgia ou cateterismo, é muito importante. Quanto mais precoce o tratamento, menores são os riscos de sequelas graves”, enfatiza o Dr. Rossi.