Delegada aponta influência de Flordelis em assassinato de pastor
13 de abril de 2021A delegada Bárbara Lomba Bueno, que iniciou as investigações do assassinato do pastor Anderson do Carmo, então marido da deputada Flordelis (PSD-RJ), declarou nesta terça-feira (13) que a parlamentar exercia influência sobre os envolvidos no crime, ocorrido em 2019.
“Todos tinham vínculo emocional forte com a deputada. As pessoas em cujos telefones foram encontradas provas eram influenciadas por Flordelis”, disse. “Isso foi comprovado. Estavam sob influência direta dela”, relatou a delegada. “Conseguimos saber com clareza que nada aconteceria dentro daquela casa sem o aval final da deputada.”
O depoimento de Bárbara Bueno foi dado em reunião do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados sobre o pedido de cassação do mandato de Flordelis. Os integrantes do colegiado também ouviram o médico-legista Luiz Carlos Leal Prestes, que trabalhou como perito no caso e apontou para evidências de uma tentativa anterior de envenenamento da vítima.
Em sua defesa, Flordelis tem afirmado que existe erro na conclusão das investigações e alega que não pode ser julgada e condenada antes que todo o processo seja concluído. Segundo ela, a mandante do assassinato foi sua filha Simone.
Mandato
No depoimento de hoje, a delegada afirmou que a eleição de Flordelis foi o estopim para o assassinato de Anderson do Carmo. “O marco que decidiu que a vítima teria de morrer foi a assunção do mandato pela deputada federal”, declarou Bárbara. “Anderson havia manifestado descontentamento com o chefe de gabinete da deputada, que tomava decisões à revelia dele.”
Com base em provas encontradas nos celulares da família da deputada e no depoimento de Wagner Andrade Pimenta, filho de Flordelis conhecido como Misael, a delegada disse que havia “um cansaço” sobre a presença de Anderson do Carmo na vida cotidiana e profissional, além de relatos de insatisfação muito grande da parlamentar.
“A deputada não estava contente com o controle absoluto de tudo pela vítima. Havia uma insatisfação em relação ao comportamento do marido. Ela manifestava isso em sentido de reclamação”, comentou Bárbara.
Pelas investigações, a delegada relatou que ninguém disse que a deputada deu uma ordem direta para o assassinato e não houve relatos de brigas entre Flordelis e Anderson do Carmo. “Tanto a vítima como a deputada se tratavam reciprocamente muito bem. Não havia ruídos diretos, explícitos. Nos dados da vítima, vimos que havia sempre publicamente uma preocupação em preservar a imagem da deputada.”
A delegada também afirmou que Flordelis se envolveu em tentativas de direcionar e desviar o foco das investigações. Ela cita que o filho da deputada, Lucas de Souza, um dos envolvidos na execução do crime, foi assediado para trocar depoimento e dar outras versões, escrevendo uma carta. “Havia conversas diretas da deputada sobre a confecção dessa carta.”
Envenenamento crônico
Em seu depoimento ao Conselho de Ética, o perito Luiz Carlos Leal Prestes apontou evidências sobre uma tentativa anterior de envenenamento de Anderson do Carmo. Segundo o médico, o pastor teve vários atendimentos médicos em curto período de tempo, no mesmo hospital, com os mesmos sintomas: dor abdominal, diarreia, vômitos e queixa de gosto metálico na boca.
“Tudo leva a crer que tenha havido envenenamento por arsênico”, declarou. “Nas conversas dos celulares dos envolvidos, há pesquisa sobre veneno e como comprá-lo.”
Prestes levantou a hipótese de uma tentativa de envenenamento crônico, com a colocação de pequenas doses de veneno na comida e na bebida, para que a vítima passasse mal e fosse levada ao hospital. O objetivo seria criar uma situação de patologia até que fosse aplicada uma dose maior que causasse a morte da vítima.
O perito disse que não tinha na época a tecnologia para detectar traços do veneno em uma possível exumação, uma vez que a suposta tentativa de envenenamento teria ocorrido um ano e meio antes da morte de Anderson do Carmo. “Não houve uma impregnação para se prolongar muito a presença do tóxico nos restos mortais”, comentou. “O tóxico não permanece no organismo por muito tempo.”
Questão de ordem
O depoimento de Bárbara Lomba Bueno ao Conselho de Ética havia sido iniciado em 30 de março, mas fora interrompido por causa do início da Ordem do Dia do Plenário.
Respondendo a questão de ordem do relator do processo, deputado Otávio Leite (PSDB-RJ), o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), decidiu que o conselho pode prosseguir com suas atividades mesmo durante as votações em Plenário. – Câmara dos Deputados – YWD 992160