Cruzeiro Esports não paga salários e tem debandada de atletas

Cruzeiro Esports não paga salários e tem debandada de atletas

2 de junho de 2022 Off Por Redação

Jogadores de times de diferentes modalidades estão com remunerações atrasadas há meses; problemas de dinheiro e infraestrutura prejudicaram equipe de Wild Rift

Cruzeiro Esports está devendo de três a cinco meses de salários para jogadores, treinadores e outros funcionários, o que resultou na debandada de integrantes de times de diversas modalidades, na abertura de processos na Justiça do Trabalho e na insatisfação generalizada, segundo apuração do ge com mais de uma dezena de pessoas. O projeto de esports do clube mineiro é atualmente administrado pela empresa 7W Play, do empresário Felipe Rossetto de Carvalho, que assumiu após a saída da E-Flix. O caso mais sério envolve o time de Wild Rift: sem pagamentos e sentindo-se abandonados, os atletas consideraram interromper a participação no Wild Tour Brasil, o campeonato oficial do jogo, enquanto o diretor do projeto, Pedro Mendes Cabreira, teve de desembolsar mais de R$ 25 mil para arcar com despesas não bancadas nem reembolsadas pela 7W.

A 7W assumiu a divisão de esportes eletrônicos do Cruzeiro em junho de 2021, mas, nas últimas semanas, viu o desligamento de jogadores de Wild Rift (masculino e feminino), Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO) e FIFA, insatisfeitos com o não pagamento de salários, as promessas descumpridas e os problemas de infraestrutura e em meio a uma indefinição sobre o projeto de esports após a compra da SAF do Cruzeiro por Ronaldo Fenômeno. Os times de Valorant (feminino), que igualmente saiu da organização, e Free Fire também sofreram com atrasos.

Felipe, responsável pela 7W, disse que não confirmava a informação de que há salários atrasados e sustentou que havia assinado acordos de distrato, com todas as pendências pagas, com os integrantes de diferentes times. Contudo, diversos jogadores com quem o ge conversou alegaram que ainda não tinham recebido nada. A reportagem pediu a Felipe que enviasse os comprovantes dos supostos pagamentos, o que não aconteceu. Ele também rebateu outras acusações sobre infraestrutura (veja todas as respostas ao fim do texto).

Já o Cruzeiro, em nota, disse que tomou conhecimento dos “possíveis problemas de gestão na equipe do Cruzeiro Esports”, informou ter solicitado os contratos e a prestação das contas que vêm sendo questionadas e declarou que “não serão medidos esforços” para organizar e potencializar o projeto de esports no clube (confira a nota, na íntegra, no fim do texto).

Sem salários

Os últimos integrantes do time masculino de Wild Rift, que antes faziam parte do Flamengo Esports, haviam entrado para o Cruzeiro Esports em janeiro. Eles saíram no mês passado, sem receber um salário sequer. Foram quatro meses sem pagamentos (fevereiro, março, abril e maio).

Um jogador da equipe contou ao ge, sob condição de anonimato, que os atrasos atrapalharam o desempenho no Wild Tour Brasil, o mais importante campeonato da modalidade no país, promovido pela Riot Games. O time conquistou a vaga para o torneio por meio da primeira seletiva, disputou a fase de grupos e obteve três vitórias e sete derrotas, não avançando para os playoffs.

Segundo o jogador, o elenco teve quatro ou cinco reuniões, durante o campeonato, em que os atletas discutiram a possibilidade de abandonar o Wild Tour Brasil no meio. Uma outra fonte confirmou as conversas. Os integrantes do time sempre decidiram continuar jogando, como maneira de preservar as próprias carreiras.

— Sem dinheiro, o pessoal começou a ficar estressado e isso refletiu dentro de jogo. Você está em uma competição gigantesca, que classifica para o campeonato mundial, vestindo uma camisa como a do Cruzeiro e sendo jogador que todo mundo conhece, é uma soma de fatores para estourar a sua cabeça e você ficar louco. É bizarro. Se você não tem experiência e não é acostumado com pressão, a sua cabeça só entra com colapso — declarou o atleta.

Vaquinha entre funcionários

Os salários atrasados, contudo, não eram o único problema. Ao contrário do que havia sido prometido ao time, o Cruzeiro Esports não colocou os jogadores em uma gaming house (casa onde atletas moram, treinam e disputam campeonatos). Eles foram para um apartamento, providenciado pelo diretor de Wild Rift, Pedro Mendes Cabreira, em Pirassununga, cidade do interior de São Paulo localizada a 200 quilômetros de distância da capital paulista.

Inicialmente, o imóvel seria provisório, enquanto a gaming house do Cruzeiro Esports, em Piracicaba (SP), onde estavam os jogadores de Free Fire, era preparada, mas se tornou permanente para todo o Wild Tour Brasil, porque a mudança nunca ocorreu.

No apartamento, que possuía dois quartos, dois banheiros, uma sala e a cozinha, os próprios jogadores eram responsáveis pela limpeza, já que não havia nenhum funcionário específico para isso.

O aluguel e as contas do imóvel passaram a ser bancados pelo diretor, e não pela 7W. Pedro também comprava a comida e os produtos de limpeza, arcou com parte das passagens dos jogadores na ida para a casa, pagou frete de mobiliário da residência e teve outros custos. O diretor teria gastado mais de R$ 25 mil nesses cinco meses de time e não recebeu reembolso da 7W até hoje, segundo apurou o ge. Ele também estaria com cinco meses de salários em aberto.

Apesar de o diretor ter bancado a maior parte dos custos, outros funcionários e integrantes do time contaram, sob anonimato, que também pagaram despesas do dia a dia que deveriam ser de responsabilidade da 7W. A operação do Wild Rift era mantida, portanto, com uma espécie de vaquinha, o que fazia os atletas se sentirem abandonados pelo Cruzeiro Esports.

— Como o Cruzeiro não estava dando suporte financeiro, em questão de pagar mensalmente, a equipe em si teve que se virar nos trinta para conseguir manter o projeto até onde fosse possível. Em algumas situações aconteceu de a gente ter que tirar dinheiro do próprio bolso para resolver situações e impasses para conseguir continuar no Wild Tour e, consequentemente, ter uma boa performance — comentou um integrante, que pediu para ter o nome preservado.

— A sensação que dava é que a gente estava meio que nós por nós mesmos. A gente não via o pessoal do Cruzeiro querendo nos ajudar. E isso gerava frustração nos moleques — admitiu outro integrante da equipe entrevistado pelo ge, ressaltando que as datas rotineiramente apresentadas para quitação dos salários eram sucessivamente descumpridas.

Na reta final do Wild Tour Brasil, o time ainda lidou com uma situação desagradável na casa. Segundo relatos de duas fontes, larvas começaram a aparecer na área de serviço e na cozinha. Inicialmente, os bichos surgiram no saco de lixo deixado de um dia para o outro no local. Quando os integrantes do time foram fazer a limpeza, as larvas passaram a sair, ao longo de quatro dias, de diferentes partes dos dois cômodos. No dia seguinte ao cessamento das larvas, a casa começou a ser tomada por enorme quantidade de moscas.

Larvas na casa provisória, que se tornou permanente, do time de Wild Rift do Cruzeiro Esports — Foto: Divulgação

Larvas na casa provisória, que se tornou permanente, do time de Wild Rift do Cruzeiro Esports — Foto: Divulgação

Além disso, em duas das rodadas em que os jogos do Wild Tour Brasil ocorreram presencialmente, no estúdio da Riot Games em São Paulo, os jogadores e o treinador viajaram, por três horas, em um carro. Em um dos dias, o motorista do serviço de transporte contratado pela equipe parecia estar alcoolizado, segundo relato de um dos integrantes ao ge, o que os colocou em risco de acidente. Mesmo após reclamações dos jogadores, o mesmo motorista trabalhou para o time na semana seguinte. O pneu do veículo estourou no retorno para Pirassununga, os jogadores tiveram de esperar o guincho a madrugada inteira e só chegaram em casa por volta das 5h, conforme o relato obtido pelo ge.

No time feminino de Wild Rift, três, das sete jogadoras chegaram a receber um mês de ordenado. Uma delas, inclusive, usou o dinheiro para dar entrada em um computador, mas, a partir do mês seguinte, não conseguiu arcar mais com as parcelas, porque as remunerações deixaram de ser pagas, conforme contou uma fonte ao ge. Os outros três salários não caíram. Para as demais, são quatro meses de atraso.

Processos judiciais

Fora da organização, os integrantes dos times masculino e feminino de Wild Rift estão iniciando ações na Justiça do Trabalho contra a 7W, pedindo a quitação de salários não pagos, mas também cobrando o reconhecimento de vínculo empregatício, com as consequentes verbas trabalhistas, e o pagamento de indenizações por danos morais e materiais.

— Os atletas foram contratados de forma irregular, na condição de “pessoa jurídica”, e essa modalidade de contratação é ilegal para os atletas profissionais de esports, porque a Lei Desportiva prevê a existência do vínculo de emprego com a organização. Os direitos dos atletas foram suprimidos e agora eles devem receber todas as verbas, inclusive as multas. As ações também contemplam danos morais por atraso reiterado de salários e pelas más condições que vivenciaram na “gaming house”. Há pedido de danos materiais para reembolso das despesas que foram subsidiadas pelos atletas, mas eram de obrigação da empresa — explica o advogado Helio Tadeu Brogna Coelho Zwicker, representante dos jogadores e treinadores de Wild Rift.

Sem cabeça para jogar

Atletas do time de CS:GO também deixaram o Cruzeiro Esports em meados de maio. Nos comunicados publicados em redes sociais, os profissionais não fizeram referência à inadimplência da organização, mas o ge apurou que eles saíram com três meses de salários em aberto. O último pagamento aconteceu em fevereiro. Os contratos deles preveem que, caso a organização deixasse de pagar por dois meses, o jogador ou técnico poderia sair sem qualquer multa. Foi a essa cláusula que eles recorreram. Cada um dos integrantes teria direito a mais de R$ 10 mil, entre salários e verbas rescisórias, de acordo com uma fonte.

Um dos jogadores, Lucas “lux”, deixou o Cruzeiro Esports na debandada de maio, somente dois meses depois de ter sido contratado e anunciado, e não chegou a receber qualquer salário, segundo uma fonte com conhecimento do assunto contou ao ge.

— Eu não tenho nenhum outro tipo de fonte de renda a não ser o jogo. Eu dependo do salário para viver. Dedico muito tempo para isso e não estava recebendo. Segurei as pontas até onde deu e tive a paciência que deu para ter, mas não tinha como continuar, porque preciso procurar outro time. Este é o meu ganha-pão — comentou um ex-membro do time de CS:GO, em entrevista ao ge, sob condição de anonimato.

Ele contou que a sucessão de atrasos de salários e de promessas não cumpridas, como a de que a equipe teria uma gaming house para se instalar, deixaram os jogadores insatisfeitos e, por consequência, atrapalharam as performances nos campeonatos.

— Estávamos numa corda bamba em questão de resultados. Essa história dos pagamentos tomava conta dos treinos e dos campeonatos. Todo dia a gente falava da mesma coisa e não conseguia parar de pensar nisso. Estava todo mundo preocupado. Basicamente o time acabou por conta disso. Pesou muito. Não estávamos tendo mais cabeça para jogar.

Saídas e indefinição no futebol virtual

A inadimplência também mexeu com a divisão de futebol virtual do Cruzeiro Esports. Jogadores de FIFA, Lucas Miguelles e Erick Toniotti já saíram da equipe.

Conforme apurado pelo ge, os dois também não receberam os salários de março, abril e maio. E Miguelles pediu para rescindir o contrato, baseando-se na Lei Pelé, que estipula, no artigo 31, que o não pagamento de salário ou direito de imagem por período igual ou superior a três meses resulta em rescisão e liberação do jogador, com possibilidade de exigência de cláusula compensatória. O jogador de FIFA cobra uma dívida de R$ 6,4 mil da 7W.

Já Toniotti tem um mês a mais em aberto. Ele deixou de receber o salário de fevereiro porque enviou a nota fiscal fora do prazo. Quando isso acontecia, a remuneração só era quitada no mês seguinte, juntando com a subsequente. Por isso, o atleta de FIFA possui quatro meses de salário para serem pagos. Ele notificou a 7W sobre a rescisão do contrato, também baseado na Lei Pelé, cobrando pagamento de R$ 7,4 mil.

No caso do eFootball, os contratos assinados preveem que os jogadores só receberiam salário quando o cenário competitivo estivesse em andamento. Isso porque a última versão do jogo chegou ao mercado cheia de bugs, em outubro de 2021, sendo impossível de ser utilizada em competições. O patch com as atualizações só foi lançado em abril deste ano, justamente no período em que a 7W estava sem pagar salários.

Por isso, conforme apurou o ge com duas fontes, embora os torneios já possam ser retomados, os integrantes da equipe de eFootball estão sem remuneração e sem saber sobre o futuro do projeto, já que os pagamentos estão atrasados para diferentes times. O clima entre os jogadores é de indefinição.

Justificativas

Quando os problemas de salário começaram a ocorrer, o dono da 7W fez uma reunião para dizer aos funcionários que tinha sido assaltado e que os bandidos usaram o aplicativo de banco do celular para fazer transferências, o que resultou no bloqueio da conta bancária da empresa, impedindo os pagamentos.

Contudo, os atrasos se prolongaram por quatro meses, com constantes promessas, todas descumpridas, sobre novos prazos para pagamentos. Parte dos integrantes dos times passou a desconfiar da história inicialmente contada, até porque houve jogadores, como os de Free Fire e Valorant feminino, que receberam nesse período de conta supostamente bloqueada, ainda que com atraso.

Além disso, os atletas eram contratados com contrato de prestação de serviço, como autônomos, sendo que, apesar de não haver uma legislação específica sobre esportes eletrônicos, sentenças judiciais têm reconhecido o vínculo empregatício entre os jogadores e as organizações.

Jogando sem contrato

No antigo time feminino de Valorant, porém, nem isso as atletas tinham, já que elas não chegaram a assinar contrato no período em que jogaram pelo Cruzeiro Esports, de junho a dezembro de 2021, segundo contou uma integrante ao ge.

— A gente nem viu a cor desse contrato. Nunca nos deram, mas sempre prometeram. De boca, disseram que a duração dele era de um ano, mas saímos em dezembro. Nós já iríamos sair de qualquer jeito no final do ano, mas tivemos uma proposta. Nossa decisão já estava tomada meses antes dessa oferta, só não tínhamos saído antes pelo medo de não conseguir outra org — contou a profissional, sob condição de anonimato.

Ela relatou que, no período em que jogaram pelo Cruzeiro Esports, as remunerações das jogadoras eram pagas, mas sempre com dias de atraso. Certa vez, o atraso chegou a dois meses.

Elas também só receberam a premiação de uma competição da Riot Games quando saíram da equipe, cerca de seis meses depois de terem jogado. Uma outra premiação, de um campeonato em novembro, ainda não caiu na conta delas, de acordo com a atleta.

Em dezembro, o time passou por mudanças, e só uma jogadora, Bruna “bubu”, permaneceu para o novo elenco, montado para a temporada 2022 e anunciado em fevereiro. Também houve atrasos nos pagamentos de salários, mas uma fonte disse que a situação atualmente estaria regularizada. O ge não conseguiu confirmar a informação com mais de uma pessoa. Entretanto, nessa terça-feira, a equipe também anunciou saída do Cruzeiro Esports e informou que continuaria jogando junta.

Todo mês com atraso

O time de Free Fire do Cruzeiro Esports, que disputou a Série A na sétima edição da Liga Brasileira (LBFF), também está com pagamentos atrasados, mas não há tanto tempo como nos demais times. Conforme dois integrantes disseram ao ge, os jogadores ainda não receberam o salário de maio, que deveria ter sido pago no último dia 15, seguindo o padrão de meses anteriores.

Segundo esses membros, os atletas sempre recebiam os salários com 15 a 20 dias de atraso em relação à data estipulada em contrato.

— Nós trabalhamos para receber em dia, não com atraso. Cada vez davam uma desculpa diferente. Falavam que iriam fazer os pagamentos, mas não faziam [na data certa] — disse um integrante ao ge, sob a condição de anonimato.

— Era ruim. Geral tem conta para pagar, e contas não esperam — completou outro membro, que também pediu para não ser identificado.

Os jogadores estão com situação indefinida, porque, apesar de o Cruzeiro Esports ter participado da LBFF, a vaga pertence à Solid, com quem a organização fez parceria. Há atletas que querem sair da equipe, mas não sem antes receber o salário ainda não pago. Um dos jogadores, Murilo “RUSH”, já anunciou publicamente estar aberto a propostas, embora ainda permaneça com contrato vigente.

Posicionamentos

Felipe, da 7W, iniciou a entrevista ao ge dizendo que a transformação do Cruzeiro em Sociedade Anônima do Futebol (SAF), como clube-empresa, causou preocupação sobre o impacto no projeto de esports e a continuidade dele. Ele relatou que, em janeiro deste ano, em reunião com a equipe de Ronaldo, comprador da SAF, apresentou todas as informações sobre a operação de esports, mas que a relação com a nova direção não se desenvolveu.

— Isso acabou gerando uma insegurança por trás da nossa operação, porque todo o risco dessa operação é pelo modelo de negócio, sobreposto ao grupo, que se viu totalmente vulnerável, visto que se tinha a informação de terceiros de que o contrato que nós tínhamos assinado com a associação [clube] teria passado a titularidade para SAF e nós não fomos nem comunicados. Desde então a gente vem vivendo nessa inconstância — argumentou o empresário.

Felipe negou, porém, que a 7W tenha deixado de pagar salários. Em diversos momentos da entrevista, ao ser questionado sobre o panorama do Cruzeiro Esports e depois sobre cada time especificamente, o executivo disse que não confirmava a informação de salários em aberto, contrariando o que mais de uma dezena de pessoas contratadas pela empresa dele afirmaram.

Ele também disse na entrevista, realizada nessa quarta-feira à noite, que havia assinado acordos de rescisão de contratos com integrantes de todas as modalidades e que já tinha, inclusive, realizado o pagamento das rescisões. Durante a entrevista, o ge voltou a conversar com alguns dos ex-integrantes do Cruzeiro Esports, e todos os contatados reafirmaram que não tinham assinado acordo algum, muito menos recebido qualquer quantia. Outros disseram expressamente que haviam recusado os termos do acordo proposto.

— Os pagamentos já estão efetuados, inclusive até o final do dia de hoje muito provavelmente todos já devem ter recebido. Mais tardar amanhã. Os acordos de rescisão. É um acordo de desvinculação, de distrato, da relação com a nossa empresa — disse o empresário. Ele fez questão de falar sobre pagamentos de rescisão porque não admite que deixou de pagar salários de janeiro a maio.

Felipe disse que possuía os comprovantes dos pagamentos dos acordos de rescisão. O ge pediu para ver os documentos. Ele concordou em mostrar para confirmar o que estava dizendo. Mas, até a publicação desta reportagem, os comprovantes não tinham sido recebidos.

— O que eu posso te informar, e tenho todos os comprovantes também que podem ser apresentados, inclusive já apresentamos ao clube, é que existe um acordo formalizado, que totaliza o fim do vínculo de todos os atletas e que a gente está honrando com absolutamente tudo, para que ninguém saia com prejuízo — sustentou Felipe, sem apresentar também qualquer acordo assinado.

Sobre a casa utilizada pela equipe de Wild Rift, o representante da 7W disse que a montagem da gaming house demoraria três meses, o que fez a empresa optar por colocá-la provisoriamente no apartamento, já que o Wild Tour estava para começar.

— Eles tinham a necessidade para jogar a partir de janeiro, a gente montou uma estrutura provisória, e o fato de o clube não nos retornar e a gente não ter a certeza da continuidade, de absolutamente nada no projeto, nos fez recuar no investimento na GH. E a gente teve que transformar o provisório no permanente, e não faltou absolutamente nada para as lines. Foi honrado.

Ele negou que os integrantes do time de Wild Rift tenham tirado dinheiro do próprio bolso para arcar com despesas da equipe.

Sobre as larvas na casa, Felipe negou que isso tenha ocorrido. Mesmo confrontado com registros em fotos e vídeo.

— Eu afirmo que isso não aconteceu dentro da GH provisória do Cruzeiro Esports. Não é um fato real, e isso é um ponto que eu não vou abrir mão também de confrontar, porque, se isso está sendo trazido por alguém, está sendo trazido de uma forma oportuna. Não é verdade.

Sobre a limpeza da casa, Felipe disse que era responsabilidade do manager “organizar a maneira de como isso vai se sustentar e se estabelecer”.

Sobre as viagens para o estúdio da Riot Games, Felipe confirmou o pneu estourado, mas negou o motorista alcoolizado:

— Não é verdade que o motorista estava alcoolizado, e, sim, procede a informação de que o pneu furou, e isso acontece. Foi resolvido. Não aconteceu acidente nenhum. Obviamente uma empresa contratada não colocaria uma pessoa alcoolizada para fazer esse translado.

Quanto à promessa de gaming house para o time de CS:GO, o empresário confirmou que não pôde cumprir, alegando que parou os investimentos na obra da casa em meio à indefinição com o Cruzeiro a partir da SAF.

No futebol virtual, Felipe disse que tinha formalizado acordo para saída dos jogadores e o pagamento estava em execução. Mas, conforme o ge apurou com fontes, não havia rescisões assinadas. Sobre o eFootball, o executivo disse que não haverá novos investimentos.

— A gente não vai formalizar nenhum novo acordo, com nenhuma organização, nenhuma equipe, antes de ter uma posição do clube conosco.

Na entrevista ao ge, Felipe não trouxe para discussão a justificativa que deu aos contratados do Cruzeiro Esports, ao longo dos últimos meses, de que não pagava as remunerações por ter sido assaltado e ter tido a conta bancária bloqueada. Foi a reportagem que tocou no assunto.

— Fui um problema operacional que a gente passou também. Eu trouxe a justificativa aos atletas em alguns momentos que eu precisava justificar que a gente estava com esse problema do sistema operacional frente ao meu assalto. Eu fiquei com esses problemas por aproximadamente 65 dias.

Apesar da reunião que fez para explicar o não pagamento de salários e de conversas de WhatsApp, vistas pelo ge, em que justificava o atraso com o assalto, Felipe sustentou que os ordenados foram pagos nesse período de bloqueio bancário.

— Temos pagamentos de fevereiro, março, abril e maio do projeto do Cruzeiro Esports.

Sobre os contratos não serem de trabalho, e sim de prestação de serviço como autônomo, o executivo declarou:

— É um contrato respaldado via Lei Pelé e que está juridicamente aprovado por todo o nosso jurídico como algo legal, uma relação legal de se construir dentro do esporte eletrônico e validada, inclusive, pelo mercado.

Ele negou que o time feminino de Valorant tenha jogado sem contrato e disse que as premiações dos campeonatos são repassadas às jogadoras quando recebidas do clube.

Sobre o Free Fire, Felipe alegou, assim como fez sobre todos os times, que os pagamentos estão em dia. Durante a entrevista, o ge voltou a falar com dois jogadores, e ambos reafirmaram os débitos.

— Free Fire está em dia, regularizado, inclusive, como a gente fez a cessão da vaga, muito provavelmente vão estar sendo direcionados para uma nova equipe.

Confira a íntegra da nota da nova direção do Cruzeiro:

Cruzeiro SAF tomou conhecimento dos possíveis problemas de gestão na equipe do Cruzeiro Esports e solicitou prontamente os contratos vigentes com a empresa que gerencia o projeto, bem como toda a prestação das contas que vêm sendo questionadas.

Vale ressaltar que o projeto de esports é extremamente importante para o Cruzeiro e sua nova gestão, iniciada em 14 de abril, e que não serão medidos esforços para organizar e potencializar o Cruzeiro Esports.

Por Gabriel Oliveira – GE