Messi chega à Copa desafiando os efeitos do tempo
26 de outubro de 2022Sempre que grandes astros atingem uma idade que indica estar próximo o ocaso de suas carreiras, é natural que algumas sensações se tornem frequentes. Por vezes, pode ser a jogada não concluída, num indicativo de que o talento permanece ali, mas o vigor já não é o mesmo. Em outros momentos, o gol perdido ou o drible não realizado que fazem pensar se, alguns anos antes, o desfecho seria outro. Afinal, quem ousaria desafiar o tempo?
Talvez a resposta seja Messi. Mais claramente nas duas últimas temporadas, ele nos fez viver cada uma destas sensações, num indicativo de que nem ele estava imune ao avanço dos anos. Mesmo em 2021, quando tirou das costas o peso de um país inteiro ao ganhar a Copa América e, em novembro, ganhou a Bola de Ouro meses antes de ficar em segundo lugar no prêmio da Fifa, era possível detectar avisos de que o mais recomendável era desfrutar de Messi enquanto havia tempo. Porque, no fundo, estávamos vivendo uma contagem regressiva e devíamos nos conformar com ela.
É verdade que o maior jogador a que as últimas gerações assistiram não deixou de fazer gols. Em 2021, por exemplo, foram 43 entre Barcelona e PSG. Mas o que acontece agora é algo distinto e, ao mesmo tempo, aterrorizante para os adversários a semanas de uma Copa do Mundo. Voltou a aparecer, com uma frequência que parecia irrecuperável, a arrancada com a bola colada aos pés, a troca de direção, o aparente deslizar entre defensores impotentes. Se o passe final e a finalização precisa raramente deixaram de fazer parte do futebol de Messi, agora ele está leve. Em todos os sentidos.
A Copa América fez a seleção argentina, que antes parecia um fardo, transformar-se num ambiente de desfrute. E o PSG, este clube cheio de peculiaridades e intrigas, individualismos e vaidades, onde Messi pareceu viver um tanto deslocado e sem brilho na primeira temporada, agora também o vê em uma versão rejuvenescida, revitalizada. O craque argentino chegará à Copa do Mundo num nível que parecia perdido, talvez o melhor, pelo menos, dos últimos três anos. Messi contrariou o tempo, produziu a raríssima reversão de uma curva que, para um atleta de 35 anos, parecia inevitavelmente descendente.
A demolição do Maccabi, nesta terça-feira, talvez fosse até natural dada a diferença técnica e econômica entre os times. Mas Messi ofereceu o pacote completo de suas virtudes. No primeiro gol do jogo, a defesa do time israelense tratou de fechar os caminhos para o chute de pé esquerdo. Mas bloqueou apenas as opções acessíveis à imensa maioria dos jogadores do mundo. Messi tirou da cartola uma trivela que contornou a marcação e morreu no canto esquerdo. No terceiro, conservou a bola até Neymar infiltrar e receber no tempo certo um passe medido.
Dizem que a entrada da área costuma ser muito congestionada, mas no quarto gol Messi chegou a se ver entre três defensores até resolver tudo com uma finta e um chute no canto, com todo jeito de tacada de sinuca. Houve jogadas em que ele apareceu perto de sua área e, segundos depois, já estava no extremo oposto do campo. Em grande parte do jogo, partiu do lado direito em direção ao centro, conduzindo com sua perna esquerda. No lance do sétimo gol, surgiu pela lateral da área, na ponta esquerda, dando o passe para Soler fechar a conta. Não precisou sequer de metade da temporada para igualar o número de gols marcados na campanha 2021-2022 pelo PSG.
Messi chega à Copa rejuvenescido, leve, desfrutando do jogo. Para quem o vê como rival, é um perigo. Para quem ama o jogo, é um presente.